A legionelose é considerada uma doença dita “rara”, afectando “apenas” entre 12.000 e 20.000 pessoas por ano em todo o mundo. No entanto, a sua taxa de mortalidade é muito elevada, sendo que cerca de 10% dos casos são fatais entre os afectados. A isto acresce o facto de ser uma doença emergente, relacionada com a presença de água armazenada e recirculada, e de este tipo de instalações (tanques de armazenamento alimentados por painéis solares, instalações do tipo “spa”, etc.) estar em constante crescimento. Basta ver o número de hotéis que acrescentam o “spa” como elemento da sua oferta de lazer. Estatisticamente, as instalações que causam o maior número de doenças são, em primeiro lugar, as redes de AQS (água quente sanitária) com grande acumulação de água (excluindo as instalações domésticas que funcionam com um pequeno aquecedor), seguidas das torres de arrefecimento hidrául ico e dos condensadores evaporativos (um sistema de arrefecimento muito específico utilizado para arrefecer grandes volumes). Tive a oportunidade de participar num estudo durante 4 meses num hotel de 5 estrelas no Algarve português. O objetivo do estudo era determinar o que era mais importante para prevenir a presença de Legionella sp nas redes de água: a presença de biocida, a temperatura ou a estagnação da água. Para o efeito, foram programadas amostragens exaustivas em 2 condições diferentes: Durante a primeira fase do estudo, a altas concentrações de cloro e temperatura. Durante a segunda fase, a temperaturas normais (atingindo 50°C e um mínimo de cloro residual livre na água fria). Este hotel tinha uma ala de um determinado andar sem rede de retorno, pelo que a água quente nesta área específica não fluía constantemente, mas tinha de vir do ramo de produção de AQS da rede de água quente sanitária. O resultado do estudo concluiu que a estagnação da água era mais importante do que a concentração de cloro ou a temperatura na proliferação da bactéria. Porque a Legionella sp se encontra principalmente ligada às superfícies dos tubos sob a forma de uma estrutura chamada biofilme, cuja formação é favorecida em condições de baixo fluxo de água. Por isso, é muito importante que, antes de tomar um duche num estabelecimento hoteleiro, deixes correr a água quente durante 5 minutos, para que eventuais vestígios de Legionella pneumophilla sejam eliminados, evitando assim a possibilidade de contrair a doença.
J. M. Berrio